Um local bem inusitado para quem viaja entre Roma e Florença são os Jardins de Bomarzo ou Sacro Bosco di Bomarzo. Trata-se de um jardim em estilo maneirista, muito comum na renascença, e que apresenta um grande número de estatuas monstruosas, o que o torna um local único, e por isso, também conhecido como Parque dos Monstros (Parco dei Monstri).
Índice:
A história do Jardim de Bomarzo
A região de Bomarzo fazia parte dos domínios da poderosa família Orsini. Em 1564, Giulia Farnese, esposa de Pier Francesco Orsini, Signore de Bomarzo, faleceu. Mergulhado em tristeza, o duque ordenou a construção de um grande jardim, em homenagem à memória de sua esposa. Nascia assim o Jardim de Bomarzo.
Não se sabe ao certo quais os motivos para isso, mas acredita-se que o duque, em dor pela perda de sua amada, quis passar ao público como era sua percepção de mundo sem a presença da esposa: um lugar feio, cheio de criaturas assustadoras e grotescas.
Pier Francesco Orsini, conhecido como Vicino, o construiu a partir de meados do século XVI e concluiu a primeira parte da obra já em 1552. Vicino, senhor de Bomarzo até 1581, mandou esculpir as rochas no local, animando-as e dando as formas, às vezes ameaçadoras e às vezes persuasivas, de criaturas oníricas. Porém só foi concluída em 1585, quando o duque já havia falecido. Com a morte do Orsini, e à medida que a própria família Orsini entrava em decadência, o jardim foi gradualmente sendo esquecido e abandonado. A vegetação cobriu e escondeu todas as obras.
Então, em 1954, Giancarlo e Tina Severi Bettini começaram a reestrutura-lo, abriram ao público e passaram o resto de suas vidas restaurando-o.
A dedicação foi tamanha que foram enterrados dentro do Tempietto do parque, que também é considerado o túmulo de Giulia Farnese, esposa de Orsini. Curioso é o fato de que a cúpula do templo é modelada com base na de Santa Maria del Fiore em Florença.
O Jardim
O Sacro Bosco di Bomarzo é mais conhecido como Parque dos Monstros (Parco dei Monstri), pois exibe uma temática um tanto quanto exótica: é decorado com dezenas de estátuas que representam monstros, cenas mitológicas, guerras e calamidades, que causam espanto e reflexão ao visitante. Aliás, essa era a ideia do duque Orsini: causar espanto e surpresa.
O Sacro Bosco difere dos jardins all’italiana e, ao se inserir na cultura arquitetônico-naturalista da segunda metade do século XVI, constitui uma obra única, dando vida a um labirinto hermenêutico de silêncios, alusões e ilusões. As esculturas são livres de perspectiva recíproca ou relações proporcionais.
A compostura clássica dá lugar ao gosto maneirista pelo bizarro e, com seus elementos gigantescos, determina uma relação desconcertante com a natureza.
Numerosos estudos tentaram resolver o enigma deste bosque, situado numa zona intermédia entre a arte, a magia e a literatura, mas o jardim do Bomarzo está destinado a permanecer um local impregnado de encanto e mistério que gera histórias e desperta a imaginação de cada visitante.
Alguns mistérios
Se você deseja visitar o Sacro Bosco di Bomarzo, deve estar ciente de todos os mistérios que rondam sua história.
Muitos acreditam que o Bosque Sagrado de Bomarzo foi dedicado à sua esposa Giulia Farnese, como uma inscrição “Sol per ventare il core”, destruída por sua morte, e que todas essas estruturas de pedra representavam os obstáculos ao seu amor.
Outros dizem que faziam parte da vontade do soberano de surpreender a todos que a quisessem visitar, visto que o próprio Orsini declarou:
Você que vagueia pelo mundo, vagando para ver maravilhas altas e estupendas, venha aqui, onde há rostos horrendos, elefantes, leões, ogros e dragões.
Também há quem defenda que nessas estátuas podem existir enigmas capazes de resolver alguns dos enredos políticos relacionados com a sua época.
Outros ainda viram algo mais: um caminho esotérico relativo à evolução do homem. O caminho equivale a fazer uma viagem ao submundo, uma viagem dentro de si, superando todas as duras provas que a vida nos coloca, tal como nos retrata a imagem de Hércules, presente dentro do parque.
Atrações
O jardim ocupa uma área de cerca de 3 hectares dentro de um bosque na cidade de Bomarzo, tendo logo acima a vista do antigo Palácio Orsini, de propriedade do Signore de Bomarzo. Ao todo são 37 pontos de parada, entre esculturas e fontes, que o visitante pode apreciar através de uma caminhada tranquila em meio a natureza.
As esculturas eram feitas de basalto, material disponível em grande quantidade na região; muitos deles são marcados por inscrições enigmáticas e misteriosas, que sobreviveram apenas uma pequena extensão.
Cada nova estátua encontrada causa uma sensação diferente, e algumas são bem conhecidas, tais como as esfinges, localizadas bem na entrada do parque.
Em seguida, o visitante se depara com o Proteo-Glauco, Proteu (foto acima) era uma divindade marinha da Mitologia Grega, retratado aqui em uma de suas muitas formas: uma grande serpente com uma enorme cabeça, que com sua boca aberta ameaça engolir o visitante (a boca é realmente tão grande que é possível entrar dentro dela). Próxima de Proteu fica a Echidna, outra figura da mitologia grega, com corpo de mulher e cauda de serpente.
Seguindo a visita, temos duas grandes estátuas em combate: Hércules, um dos mais famosos heróis da mitologia romana (baseado no Héracles da mitologia grega), enfrenta com violência o gigante Caco, numa clara referência aos 12 trabalhos mitológicos realizados pelo herói. Perto dali fica a estátua de uma enorme tartaruga, carregando no seu casco a estátua de uma mulher.
Outra construção bem interessante é a Casa Pendente, uma casa torta, que parece se inclinar na direção da colina, como quem precisa de um apoio. A casa é aberta, e ao entrar, sente-se a inclinação do piso, o que causa uma sensação estranha.
Uma das estátuas mais interessantes (e mais intrigantes) é o Elefante de Aníbal. O enorme animal carrega um guerreiro em suas costas, e nas presas, o corpo de um soldado romano. Essa escultura relembra a Segunda Guerra Púnica, na qual os romanos enfrentaram (e venceram) os cartagineses. Aníbal, líder dos cartagineses, utilizava elefantes como armas de guerra, causando terror aos soldados inimigos, que temiam ter o mesmo destino do soldado representado na escultura.
Outras esculturas que se destacam são Netuno, deus do mar na mitologia romana, acompanhado de um monstro marinho, e o Ogro, talvez a mais famosa das esculturas do parque. O Ogro é, na verdade, uma enorme cabeça com a boca aberta, ainda maior que o Proteo-Glauco (tem até uma mesinha lá dentro). Uma inscrição na boca diz “ogni pensiero vola” (cada pensamento voa), convidando o visitante a refletir.
Já os Obeliscos são um conjunto de esculturas dispostas ao longo da rua, exibindo faces grotescas.
E as surpresas não parar: a escultura de dragão em luta contra um cão, um urso e um lobo, outra escultura representando Cérbero, o cão de três cabeças que guardava as portas do inferno na Mitologia Grega, Ceres, a Deusa romana da Agricultura, e o Banco Etrusco, esculpido ao estilo das estátuas etruscas, e que oferece um ponto de descanso para o visitante.
Por fim, já no final da visita, temos o Templo da Eternidade, um pequeno e belíssimo templo, construído como memorial para Giulia Farnese, e que atualmente abriga os túmulos de Giovanni Bettini Severi e Tina, responsáveis pela restauração do jardim.
Mas qual é a verdade sobre o Sacro Bosco di Bomarzo?
Existem muitas referências à mitologia e citações literárias. Vão desde as Metamorfoses de Ovídio, à Divina Comédia, passando pelo Decamerão.
Mas existe uma conexão entre essas estruturas ou são todas independentes umas das outras ?! Este é mais um dos mistérios não resolvidos deste jardim encantado.
Cientistas e filólogos históricos tentaram dar uma explicação, procurando entre temas antigos e renascentistas como Il Canzoniere de Francesco Petrarca, Orlando Furioso de Ludovico Ariosto e os poemas Amadigi e Floridante de Bernardo Tasso, mas ainda não foi encontrado um esquema interpretativo universal.
Ilusões, adivinhos, charadas e enigmas estimulam a imaginação de cada visitante que se encontra caminhando neste lugar, a meio caminho entre um conto de fadas e um pesadelo.
É uma floresta onde a arte e o engano fascinam jovens e idosos.
Em 1948 o parque foi visitado por Salvator Dalì que para a ocasião se colocou em poses originais entre os principais monumentos e definiu o lugar como uma invenção histórica única. Até Salvador Dali se apaixonou e se deixou inspirar.
É verdade que arte é verdade e mistério!
Assim como a frase gravada em uma pedra no parque nos diz:
“Vocês que entram aqui olham de um lado para o outro e depois me dizem se tantas maravilhas são feitas para o engano ou para a arte?!”
O que ver na cidade de Bomarzo?
Bomarzo é uma pequena cidade de apenas 1600 habitantes, caracterizando um típico burgo medieval. Ao visitar o Jardim de Bomarzo, vale a pena caminhar por suas ruas estreitas e conhecer, na parte mais alta da cidade, o Palazzo Orsini, onde o duque Orsini vivia com sua amada Giulia Farnese. Quem estiver de carro pode visitar a Pirâmide Etrusca, uma construção de cerca de dois mil anos de idade, a apenas dois quilômetros de distância de Bomarzo. Outro local interessante, um pouco mais ao sul da pirâmide é a Necrópole de Santa Cecília, que na verdade é um sítio arqueológico com vestígio de habitações dos períodos etrusco, romano e medieval.
Para quem visita Viterbo, ou está de passagem pela região, vale a pena dar uma esticada até Bomarzo. O jardim, como já dissemos, é uma construção única devido às suas estranhas e enigmáticas esculturas, além de sua beleza e natureza exuberantes. E se quiser conhecer melhor a região, confira as opções de passeios que oferecemos.
🏷 Guia Prático
Site oficial: https://www.sacrobosco.eu/
Bilhete: 10 euros. As crianças até aos 4 anos entram gratuitamente e as dos 4 aos 13 anos pagam 8 euros. Na entrada, você também receberá um mapa com o caminho a seguir para ver todas as obras.
Horário: O parque está aberto todos os dias do ano em horários contínuos. De segunda a domingo.
- Nos meses de novembro, dezembro, janeiro, fevereiro:h 09.00 – 17.00
- De março (com horário de verão) a setembro: h 09,00 – 19,00
- Outubro: 09h00 – 18h00
O jardim fica próximo da cidade de Bomarzo, na província de Viterbo, ao norte da região do Lazio (Lácio), na Itália. A melhor forma de chegar até lá é de carro, através das rodovias A1, E35 e E45, para quem sai de Roma. Outra opção é pegar um trem até Viterbo, é de lá, um ônibus até Bomarzo.
É difícil chegar por transporte público, mesmo se no dia do seu passeio houver ônibus da Cotral (domingos e feriados não há ônibus. Bomarzo é servida por uma das linhas de ônibus da Cotral que ligam Viterbo e Orte scalo. Na verdade, existem duas “fórmulas” de viagem possíveis:
- chegar primeiro a Viterbo e de lá apanhar o ônibus para Orte scalo via Bomarzo
- chegar primeiro a Orte scalo e de lá apanhar o ônibus para Viterbo via Bomarzo.
Das duas, a solução que o leva primeiro é via Orte. O ônibus sai às 10h40 e chega aproximadamente às 11h30. Em vez disso, o ônibus sai de Viterbo às 11h30 e chega por volta das 12h.