Eu visitei a região da Úmbria em setembro, para conhecer a província de Terni. Uma viagem insólita que teve caça às trufas, degustação de vinho, museus, múmias e a linda natureza umbra.
Esta viagem foi promovida pelo Gal Ternano – uma instituição que tem a finalidade de valorizar o território –, juntamente com a região da Úmbria. A viagem for organizada para jornalistas e blogueiros conhecerem áreas da Úmbria ainda fora das “típicas rotas turísticas”.
Índice:
1° dia: Ferentillo, Museo delle Mummie e Azienda Piermarini
Saí da Toscana, onde moro, de trem até Roma e de lá até Terni, onde fiquei hospedada no Classic Hotel Tulipano Terni, um bom hotel 3 estrelas, mas que fica um pouco fora do centro histórico.
Nossa primeira parada foi Ferentillo, mas precisamente a Abbazia di San Pietro a Valle, do séc VIII, que possui afrescos de grande importância histórica. A igreja da Abadia, que fica próximo ao centro da cidade, foi concluída em 2 épocas diferentes, longobarda (séc.VIII) e românica (séc. XII), mas que manteve entre os dois um estilo harmonioso. No interno da Igreja se encontram fragmentos longobardos, sarcófagos romanos e afrescos importantes dos séculos XI e XII, e que têm como tema o Velho e o Novo Testamento.
Na capela lateral esquerda há uma passagem estreita ao redor da mesa do altar. Existe uma lenda que diz que quem passava por esse caminho era curado, e claro que eu passei né? Tinha que testar!
Já dentro da cidade de Ferentillo, que possui restos de um lindo castelo do século XII e uma muralha que foi construída para a defesa da cidade ainda bem visível no alto, conhecemos a sua história. A cidade ainda é famosa a nível internacional pela sua rocha (veja na foto abaixo), a qual recebe todos os anos muitos escaladores profissionais.
A cidade ainda guarda uma surpresa. Visitamos ali o museu mais curioso dessa viagem! É o Museo delle Mummie di Ferentillo (museu das múmias)! O Museu das Múmias de Ferentillo é um cemitério na cripta sob a igreja de Santo Stefano, que esconde um fenômeno pitoresco. Dentro essas muralhas, no início do século XIX, enquanto se estava prestes a proceder à exumação de restos mortais sepultados na igreja (de acordo com as novas regras do Édito de Saint-Cloud, ordenado por Napoleão), foram encontrados alguns cadáveres em um bom estado de conservação. Vinte e cinco destes estão à mostra no museu.
Algumas múmias mantêm o cabelo, dentes e roupas, e em alguns corpos foi possível descobrir a causa da morte. Desde a descoberta, o processo de mumificação foi estudado durante algum tempo, mas não se chegou a uma conclusão segura. Os cientistas acreditam que uma mistura de diferentes sais, amônia, combinado com a ventilação e a decomposição de microorganismos, fez com que lentamente a pele dos cadáveres secasse. Devo confessar que dá um certo arrepio ver esses corpos com pele, dentes, cabelo, em alguns casos, com as órbitas oculares.
Caminhamos pela cidade e depois fomos animados ao nosso passeio gastronômico. Conhecemos a Azienda Agricola Piermarini, uma fazenda familiar que produz azeite e grãos (farro e lentilha). Há um pequeno hotel e um famoso restaurante, pois sua terra é fértil de trufas negras.
Eles foram escolhidos representantes da EATALY durante a EXPO em Milão para representar a gastronomia da Úmbria, portanto pode acreditar, fomos ao local certo! O senhor Primo Piermarini nos contou a história da família, das suas intermináveis caça às trufas e da sua cozinha.
Primo é ainda o chef do restaurante e nos mostrou um pouco da cozinha com trufas, massas e pães, e contou alguns segredos culinários.
Jantamos pratos deliciosos como sopa de lentilha, taglierini al tartufo nero, pempepato ternano e outros delíciosos doces.
2° dia: Arrone, Cascata delle Marmore, Amelia, Vinícola Zanchi
Nossa primeira parada foi na cidade de Arrone, selecionada como “uno dei piu belli borghi d’Italia” (um dos burgos mais bonitos da Itália), que fica a 25 minutos de carro de Terni e onde vivem cerca de 3.000 pessoas.
O mais interessante em visitar essas pequenas cidades é a recepção tão carinhosa das pessoas que são orgulhosas da sua terra e do seu trabalho. Isso em Arrone é visível!
Nossa primeira parada foi na Igreja de Santa Maria Assunta de 1504, que possui afrescos de Giovanni da Spoleto e Vincenzo Tamagni, dos irmãos Torresani, do Maestro di Arrone e outros. Difícil sair dessa igreja cheia de afrescos e detalhes tão interessantes, vale mesmo a visita!
Subimos até o castelo, passando pelas vielas medievais até chegar à pequena Igreja de S.Giovanni Battista, que possui afrescos de 1483 e 1486, onde em muitos deles é representado São Sebastião em seu martírio. Fiquei fascinada por uma escultura de madeira que representava São João Batista, bem intrigante.
Do lado de fora foi oferecida uma “merenda” com os produtos locais, para nos dar boas-vindas, isso não é fantástico? Como eu sempre digo, a verdadeira Itália é essa, acolhedora e orgulhosa da sua terra, e Arrone é um maravilhoso exemplo.
Fomos recebidos pelo Presidente da Associação dos “Campanari” (sem tradução no português, seria tocadores de sinos), formado por uma série de músicos profissionais que se juntaram para continuar a linda tradição Umbra de tocar o sinos das igrejas à mão. Não pense que seja fácil viu, eles tocam várias músicas e para isso devem segurar e virar sinos pesadíssimos!
Lógico que ao assistir quase 10 minutos de sinos gigantes tocando eu fiquei surda o resto do dia, mas valeu e muito a experiência de vê-los tocar.
Depois visitamos a antiga torre de defesa da cidade, hoje transformada em campanário, depois na Torre di Arrone, de 17 metros de altura. O curioso dela é que há uma oliveira no alto da torre, dizem que nasceu ali naturalmente.
Depois fomos até a Cascata delle Marmore, a maior cascata da Europa. São 3 quedas divididas em 3 níveis. Foi obra da engenharia dos romanos, e foi idealizada por M. Curio Dentato no séc. III a.C. Hoje a força das suas águas produz energia elétrica.
Há várias trilhas de trekking e como o tempo não estava lá muito bom, não fizemos. Mas nos foi recomendado o Balcone degli Innamorati, um túnel de onde é possível ver a água da cascata que corre entre as pedras.
Dali fomos para o momento mais esperado (ao menos por mim), do dia: a visita à vinícola Cantina Zanchi, que fica em Amelia.
A família Zanchi, já na terceira geração, produz vários vinhos que são representativos deste território, como o Amelia DOC. A essa família não falta sorriso e nem simpatia.
Eles produzem, nada mais nada menos, que 12 rótulos! As uvas principais da região são: ciliegiolo, que eles vinificam em pureza, grechetto, aleatico, malvasia, trebbiano e sangiovese.
A vinícola é linda, vale muito a visita, além dos vinhos serem realmente maravilhosos. A família é super simpática e fizemos um brunch com uma vista magnífica! Não faltou cenário para foto.
Depois disso fomos até Amelia, uma cidade de origem muito antiga que possui uma panorama incrível e é circundada por uma muralha ciclope do VII séc a.C. Os restos da antiga muralha de época anterior ao Império Romano ficam no centro histórico da cidade, entre o Teatro Social e a Porta del Valle, e são constituídos por grandes blocos calcários de pedra poligonal, encaixados a seco.
A Porta Romana representa a entrada da cidade e remonta ao século III. Ainda interessante foi ver o calçamento original da estrada romana.
Visitamos a Cisterna Romana, do século II d.C., que garantia a sobrevivência hídrica de toda a cidade nos períodos de seca. Cada “sala” da cisterna possuía cerca de 5 ou 6 metros de largura e 19m de altura.
Visitamos ainda o Teatro Social, que acabamos voltando no final da noite para assistir a um show de jazz.
Por fim, fomos ao Museu Arqueológico de Amelia, rico em obras pré-romanas, romanas e etruscas.
Terminamos a noite jantando na Locanda del Conte Nitto.
3° Dia: Narni e vinícola La Palazzola
A primeira parada do dia foi em Narni Scalo, para visitar a Ponte de Augusto, de época romana. Visitamos a cidade de Narni, com sua aparência medieval. Suas ruas estreitas são marginadas por construções de pedra que estão empoleiradas numa colina. No sopé da montanha, junto ao Rio Nera, surgiu a parte moderna da cidade e a ferrovia. É nessa parte que está a estação detrem, que é um dos meios de se chegar até Narni.
Nas imediações da Via Mazzini está o Complexo religioso de San Domenico com sua área subterrânea, que permite voltar no tempo quando os romanos construíram tanques para guardar água potável e aquedutos. Nesse local há uma igreja que foi escavada na pedra entre os séculos 12 e 13 com belas pinturas como a Coroação de Maria e San Michele Arcangelo.
Leia ainda —> Úmbria Insólita: Narni subterrânea
Vistamos Narni Sotteranea (subterrânia), com uma história incrível – indico muito mesmo a visita – um ambiente que antigamente era usado como Tribunal da Inquisição, onde estão expostos instrumentos de tortura da época e as masmorras onde eram mantidos os prisioneiros acusados de heresia. Nas paredes das celas os prisioneiros registraram testemunhos dramáticos e outros símbolos que contam a sua história. Farei um texto ainda somente sobre esse local fantástico.
Há alguns anos, uma série de livros infanto-juvenis lançada pelo escritor irlandês Clive Stapleton Lewis fizeram o mundo voltar o olhar para Narni. Embora as estórias de “As Crônicas de Narnia” sejam fictícias, muitos jovens associam a cidade de Narni aos episódios da série e até encontram semelhanças: como leão e as esculturas mitológicas que aparecem em alguns pontos da cidade, o castelo, as águas do Rio Nera e o grifo que faz parte do emblema de Narni.
Para fechar a viagem, fizemos uma visita à Cantina La Palazzola, que faz espumantes deliciosos com método clássico, além de vinho branco di Terracotta e Vin Santo.
Fizemos a visita da vinícola e depois um delicioso brunch com produtos locais, para terminar a viagem e então voltar para casa feliz após ter conhecido uma parte tão deliciosa na Úmbria.
Espero que esse roteiro possa servir de inspiração para uma viagem no interior da Úmbria, em locais fora da rota turística, mas que guardam tesouros preciosos, e ainda sorrisos de um turismo acolhedor, a cara do povo dessa região!
Aguarde mais posts sobre esta viagem, mais específicos.
Nota: Eu participei desta viagem de imprensa como convidada pelo GAL – Grupo de Ação Local de Terni. Este post faz parte de uma série de textos baseados nas minhas experiências durante esta viagem. Todos serão identificados. Não recebi dinheiro para escrever, não tenho nenhum vínculo de obrigações de produção de textos, divulgação de mídia social, portanto tenho total liberdade editorial.
Amei !!Esta no meu roteiro para próxima ida a Itália !!!Voce tem sugestão para a Puglia indo até Tropea e Matera?Se puder enviar ,Aguardo !
Obrigada Eleonora,
Não temos roteiro, mas temos textos sobre estes locais, veja:
https://tournaitalia.com/o-que-fazer-em-tropea-calabria/
https://tournaitalia.com/o-que-ver-em-matera/
boa viagem! abs
Ciao Deyse, a causa dei miei deficit linguistici purtroppo non ho afferrato il 100% dei contenuti, però mi sembra davvero un bel resoconto (immagini comprese!). Alla prossima
Grazie mille Gianluca! Alla prossima.
Parabens pelo relato. Gostei muito! Abs
Obrigada Ligia!!! Fico muito feliz que tenha gostado, é feito pra vocês! abs.