Conheça um dos museus mais inusitados, e um dos mais visitados na Úmbria, o Museu das Mumias de Ferentillo. As fotos não são aconselháveis a pessoas sensíveis.
Foto: página facebook Museo delle Mummie di Ferentillo
Durante minha última viagem a Úmbria (leia Roteiro pela Úmbria Insólita), conheci a história de Ferentillo, cidade que possui restos de um lindo castelo do séc XII, e uma muralha que foi construída para a defesa ainda bem visível no alto. A cidade ainda é famosa a nível internacional pela sua rocha (veja na foto abaixo) para a qual muitos escaladores profissionais vêm todos os anos.
A cidade ainda guarda uma surpresa, visitamos ali o museu mais curioso dessa viagem! É o Museo delle Mummie di Ferentillo (museu das múmias)!
Observação: não é possível fazer fotos ao interno do museu, por questões de respeito aos mortos, por isso utilizamos as fotos da página facebook Museo delle Mummie di Ferentillo.
O Museu das Múmias de Ferentillo é um cemitério na cripta sob a igreja de Santo Stefano, que esconde um fenômeno particular. Dentro dessas muralhas, no início do século XIX, enquanto se estava prestes a proceder à exumação de restos mortais da Igreja, de acordo com as novas regras do Édito de Saint-Cloud, ordenado por Napoleão, foram encontrados alguns cadáveres em um bom estado de conservação. Vinte e cinco destes estão à mostra no museu.
Desde então, o processo de mumificação foi estudado durante um tempo, mas não se chegou a uma conclusão segura. Os cientistas acreditam que uma mistura de diferentes sais, amônia, combinado com a ventilação e a decomposição de microorganismos, fez com que lentamente a pele dos cadáveres secasse.
Gostaria de citar a escrita na entrada da cripta, que condiz muito com o local:
“Hoje a mim, amanhã a você.
Eu fui o que você é,
você vai ser o que eu sou.
Pense mortal, que o teu fim é este.
E pense mesmo, porque o seu será em breve “
O aviso é muito explícito, é o que vai preparar o visitante para uma visão incomum, múmias com corpos quase intactos pelo efeito de um processo de mumificação completamente espontâneo e não proposital.
Foto: página facebook Museo delle Mummie di Ferentillo
Os corpos, perfeitamente cuidados, mantêm o cabelo, dentes e roupas e que em alguns foi possível descobrir a causa da morte. Elas foram enterradas e ligadas por uma faixa de tecido que lembra a pele de ovelha, como aqueles usados para compor os pergaminhos antigos.
Foto: página facebook Museo delle Mummie di Ferentillo
Foram encontrados muitos corpos, mas a má manutenção e conservação modificou a composição de algumas delas e por isso apenas duas dezenas de múmias estão à mostra no museu.
Foto: página facebook Museo delle Mummie di Ferentillo
No total, o museu tem 25 corpos mumificados, de homens, mulheres e crianças, mas também 10 cabeças preservadas, mais de 270 crânios, um caixão lacrado e dois voláteis mumificados após experiências no século XX. Em 1887, a Accademia dei Lincei publicou um estudo detalhado dos professores universitários Carlo Maggioravi (1800-1885) e Aliprando Moriggia (1830 – 1906), apoiado pelo químico Vincenzo Latini (1805-1862), segundo a qual os corpos mumificados de Ferentillo se devem ao tipo de terra, rica em silicatos de ferro e alumínio, sulfato e nitrato de magnésio, de cálcio e amônia, à ventilação fornecida pelas três janelas ogivais (bem finas e longas) do local e à presença na pele das múmias de determinados microrganismos que se alimentam de materiais que decompõem cadáveres e que os seca rapidamente.
Foto: página facebook Museo delle Mummie di Ferentillo
É de se notar ainda que o processo ainda continua, pois as condições na cripta de Santo Stefano se mantêm-se inalterados.
As posições dos corpos, alguns “sinais” estranhos, além das expressões faciais, como o sofrimento, deram origem a muitas lendas, transmitidas de geração em geração, muitas vezes alimentadas pela religiosidade da época da sua descoberta. Tudo isso serviu também para dar apelidos para as múmias, tais como carrasco, viúva, etc.
Foto: página facebook Museo delle Mummie di Ferentillo
Na verdade, os “sinais” estranhos não são nada mais do que vestígios de autópsias realizadas no momento da morte. As posturas estranhas são derivadas, em alguns casos, da ruptura dos corpos no momento da descoberta, e as expressões faciais estão relacionadas com o processo natural de endurecimento dos cadáveres. No que se refere ao local e a sua história, o interesse das pessoas tem aumentado bastante, tanto que, em 1992, decidiu-se criar um museu e um uso diferente de novos expositores para o armazenamento dos corpos.
Foto: página facebook Museo delle Mummie di Ferentillo
Ainda há também um cadáver perfeitamente preservado em um caixão que ainda está à espera de ser exumado. Na época em que foi encontrado, a família não deu permissão à sua exumação, mas o termo está prestes a expirar …
Devo confessar que dá um certo arrepio ver esses corpos com pele, dentes, cabelo, em alguns casos, com as órbitas oculares, mas ao mesmo tempo suscita um fascínio e muita curiosidade, e por incrível que possa parecer, é um dos museus mais visitados da região.
Na Itália existem outros locais onde há múmias preservadas:
- Catacombe dei Cappuccini, Palermo (XVI – XIX sec.)
- Chiesa dei Morti di Urbania, Pesaro (XIV – XVIII sec.)
- Chiesa di Santa Maria della Grazia, Comiso (XVIII – XIX sec.)
- Mummie di Savoca, Messina (XVI sec.)
- Chiesa di San Bartolomeo di Navelli, L’Aquila (XIII(?) – XIX sec.)
- Duomo di Venzone, Udine (XIV – XVI sec.)
- Basilica di San Domenico Maggiore, Napoli (XV – XVIII sec.)
Leia meus textos sobre essa viagem:
- Roteiro pela Úmbria Insólita: gastronomia, arte, vinho e natureza
- Úmbria Insólita: Narni subterrânea
Informações:
Museo delle Mummie
Abertura: de 15 de março a 15 de outubro, das 09:30 as 12:30 e das 14:30 as 19:30
de 16 de outubro a 14 de março, das 10:00 as 12:30 e das 14:30 as 17:00
Site e página facebook
Índice:
Nota: Eu participei desta viagem de imprensa como convidada pelo GAL – Grupo de Ação Local de Terni. Este post faz parte de uma série de textos baseados nas minhas experiências durante esta viagem. Todos serão identificados. Não recebi dinheiro para escrever, não tenho nenhum vínculo de obrigações de produção de textos, divulgação de mídia social, portanto tenho total liberdade editorial.
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