Montefiascone, conheça a cidade do vinho do Lazio, para além de sua especialidade, uma cidade que possui laços fortes com a religiosidade, tendo já servido de refúgio eclesiástico.
Não há como pensar em Itália sem imaginar uma degustação de bons vinhos. E, entre tantos rótulos apaixonantes, a cidade de Montefiascone ficou conhecida como a cidade do vinho. A cidade de apenas 13 mil habitantes está localizada na região do Lazio, em português Lácio, na borda de uma cratera de um vulcão extinto.
Índice:
Introdução
Nas margens do lago Bolsena, a cidade esconde belezas para além das delícias do vinho. Dominada pela catedral Santa Margherita, a cidade oferece linhas vistas do lago e das colinas que a circundam. No coração dessa área agrícola famosa pelos vinhos, as heranças históricas de monumentos antigos exibem as origens antigas da cidade, em testemunhos etrusco-romanos.
A história da cidade foi constituída em tempos medievais, tendo experimentado períodos de grande esplendor, por causa da presença de figuras de altas posições eclesiásticas que se refugiaram na cidade enquanto exércitos invasores ameaçavam Roma.
Com uma imponente cúpula com icônicos afrescos projetados por Carlo Fontana, a catedral da cidade foi justamente a responsável por seu renascimento, no ano de 1674.
Além dessa igreja principal, também o templo de Sant’Andrea é uma das igrejas mais antigas de toda a Itália, tomando o centro histórico de Montefiascone. Já a igreja de San Flaviano é composta por dois templos sobrepostos: a rocha de Montefiascone, que representa a sua importância política e cultural, enquanto seu outro edifício foi o que serviu de refúgio ao papado.
Assim, como um pequeno borgo localizado na região de Lácio, para além do vinho, Montefiascone exerce a sua importância religiosa, provada pela imponência de seus templos. Para entender um pouco mais o contexto em que a cidade se criou, vamos conhecer um pouco sobre a sua história?
Montefiascone: a história da cidade do vinho
Traços de civilidade antiga foram encontrados entre as áreas de Montefiascone e Viterbo, mais precisamente em Rinaldone, sede da civilidade eneolítica. No lugar onde estão as rochas fortificadas da cidade foram encontrados restos de um povoamento que retoma ao século 9 a.C.
Montefiascone teve as maiores fortunas do período romano, por causa de um sistema de estradas eficiente, e porque os etruscos não apresentavam grande fenômenos urbanos.
Por registros históricos, Montefiascone começa a aparecer em documentos oficiais a partir de 853, quando Leone IV confirma ao bispo de Tuscânia, Virobono, as posses da diocese. Assim, sabemos da fundação de San Pietro, das antigas igrejas de Santa Maria e Sant’Agnese, que hoje delas sobram apenas vestígios da construção.
Na Idade Média, o centro de Montefiascone, com a sua pequena fortaleza, começa a assumir uma posição estratégica, por conta da sua posição sobre a vila.
Já em 1111, Enrico V e a sua corte passam por Montefiascone, diretamente a Roma, para a consagração do papado. Reza a lenda que Johannes Druk teria se apaixonado pela pequena comuna quando conquistado pela delícia do vinho local.
Nos anos seguintes, a cidade se tornou um dos mais importantes centros da Igreja. Após sucessivas invasões, dominações e batalhas na pequena comuna, ela seguiu abandonada por anos.
No ano de 1590, Montefiascone caía aos pedaços. Autoridades eclesiásticas se importavam cada vez menos com a cidade, que já fora a sua comuna de verão, onde passavam feriados tranquilos. Por décadas, Montefiascone ficou no anonimato.
Então, com a anexação ao Reino da Itália, ela volta ao mapa. Depois de séculos, Montefiascone volta à vida com a reconstrução de praças, palácios e edifícios.
Em 1958, foi criada a Feira do Vinho. A Feira, ainda hoje um dos principais eventos de verão em Montefiascone, sempre em agosto, celebra a vitoriosa história agro-vinícola da cidade e o seu renomado vinho Est! Est!! Est!!!.
Mas, afinal, o que ver em Montefiascone?
Visitar Montefiascone é como uma viagem ao passado por meio de suas construções, é como respirar a Idade Média. Por toda a sua relação com autoridades eclesiásticas e seu passado ligado à igreja, predominam edifícios religiosos e prédios cristãos.
Situada no alto de um monte, a vista panorâmica da cidade permite admirar o lago que a circunda e uma infinidade de montanhas por detrás. Tudo isso sempre acompanhado de um bom vinho, que rendeu a fama da cidade desde tempos remotos. Para te ajudar a organizar o itinerário, fizemos uma seleção de pontos importantes para conhecer em Montefiascone. Confira abaixo:
1. Basílica di San Flaviano
A basílica mantém os restos mortais do mártir cristão Flaviano, grande protetor de Montefiascone. O complexo arquitetônico é composto por duas estruturas: uma igreja inferior que remonta ao século XI e uma superior do século XIII, dispostas em direções opostas. A fachada principal é marcada por seus arcos e um campanário, enquanto a fachada oposta ostenta uma linda rosácea no centro. Numerosos afrescos enriquecem o interior das duas igrejas, com cenas do Novo Testamento, com destaque para o “L’incontro dei tre vivi dei tre morti” (século XIV).
2. Cattedrale Santa Margherita
Situada na piazza homônima de Santa Margherita, esta igreja é dedicada à padroeira de Montefiascone, Margherita, de quem herda todas as suas relíquias. As origens da igreja datam 1330, mas somente anos depois a diocese decidiu construir um edifício maior, digno de uma catedral.
O complexo arquitetônico comandado pelo arquiteto florentino Antico di Stefano projetou dois níveis, sendo uma igreja superior e uma cripta em um andar inferior. Então, passa finalmente para Carlo Fontana a realização da grande cúpula, que conhecemos até hoje e se tornou a grande atração da catedral, sendo uma das maiores em nível nacional.
3. Igreja de Sant’Andrea
Erguida no coração da cidade, é uma das igrejas mais antigas de Montefiascone. Seus documentos atestam origens no século 9. A fachada em estilo gótico impressiona, mas seu interior permanece simples, dividido entre pilares de idades pré-romanas.
4. Igreja de Santa Maria delle Grazie
Apesar de ter sido erguida durante a Idade Média, diferentes renovações e reformas foram feitas em seu prédio ao longo dos séculos. O resultado atual reflete o século XX, apesar do altar-mor em estilo barroco, que conserva a imagem da Madonna delle Grazie do século 14.
5. Museu Antonio da Sangallo il Giovane
Para além da tour pelas igrejas históricas, Montefiascone também apresenta o Museo Antonio da Sangallo il Giovane. Ele se trata de um centro de estudos e documentações com um museu do arquiteto de mesmo nome, exibindo vídeos e painéis informativos que apresentam a história, obras e evolução artística de Sangallo, muito relevante durante o Renascimento. O circuito de visita do museu passa pelos aspectos biográficos do arquiteto, os anos de formação de Florença e Roma, até a nomeação do Papa Paulo III Farnese.
6. Rocca dei Papi
Sobre o ponto mais alto da colina de Montefiascone, está a Rocca dei Papi. A fortaleza adquiriu um prestígio especial durante a Idade Média, tendo sido escolhida pelo Papa Innocenzo III como sede do Reitor de São Pedro na Toscana.
O local já foi centro político e institucional de considerável relevância. Nele, o arquiteto Antonio da Sangallo executou as últimas intervenções arquitetônicas para o palácio, concluídas em 1516 sob comando do Papa Leão X.
Hoje, a estrutura é composta por um pátio, de onde se tem uma vista encantadora do Lago di Bolsena e do campo, e do Museu Sangallo (falamos dele acima)
Mas não só isso, a poucos metros da Rocca é possível visitar o jardim, entre plantas perenes e canteiros de flores bem cuidadas, dirigimo-nos para a igreja dedicada à Madonna della Neve. Passeando pelos caminhos do jardim situado a 663 metros acima do nível do mar, desfrutamos de alguns momentos de paz e intensa tranquilidade.
7. O panorama
O panorama que se pode desfrutar em Montefiascone é um dos mais belos de toda a Tuscia de Viterbo. Na estrada que leva ao portão da cidade há uma pequena clareira onde você pode parar para tirar fotos e descansar por alguns minutos antes de retomar sua jornada.
8. Antica Cantina Leonardi
Na cidade do vinho, a degustação é obrigatória. Para isso, sugerimos a Antica Cantina Leonardi, um local antigo e familiar que servirá como um passeio pela história do vinho, além de oferecer uma vista maravilhosa do lago de Bolsena.
A história do vinho de Montefiascone?
Existem algumas razões para o vinho ser tão importante em Montefiascone, e muitas delas são naturais. O clima e o terreno, aliado às tradições milenares na região, auxiliaram no cultivo da uva em sua melhor maneira, a fim de produzir vinhos de boa qualidade.
Mas o grande carro-chefe da região é o “Est! Est!! Est!!!”, vinho reconhecido pelo selo DOC (Denominação de Origem Controlada). O seu nome vem de uma antiga lenda.
Segundo esta lenda, no ano de 1111, Enrico V da Alemanha estava chegando a Roma com o seu exército para receber do papa Pasquale II, a coroa de Imperador do Sacro-Império Romano. Junto dele, estava um bispo, Johannes Defuk, um entendedor de vinhos.
Para satisfazer a sua paixão pela descoberta de novos sabores, Defuk enviou o seu copeiro Martino com a missão de o preceder no caminho de Roma para degustar e escolher os melhores vinhos por todas as tavernas onde passava. Para que pudessem lembrar quais eram os bons vinhos, eles combinaram um sinal escrito, um código: se Martino encontrasse um bom vinho em uma pousada, teria de escrever “Est” (palavra francesa, abreviação de “est bonum“, ou seja “tem vinho bom”),na porta da pousada. Se o vinho fosse particularmente bom, deveria ter escrito “Est Est“. Assim que o criado chegou a Montefiascone e provou o vinho local, percebeu a sua excepcional qualidade e, para o comunicar, decidiu repetir três vezes o sinal combinado e reforçar a mensagem com seis pontos de exclamação: “Est! Est!! Est! !!
O bispo, tendo chegado à aldeia, partilhou o julgamento do seu copeiro e prolongou a sua estada em Montefiascone por três dias. Com isso, no final da missão imperial lá regressou, restando até ao dia da sua morte (que ocorreu, aparentemente, por excesso de bebida). Foi sepultado na igreja de San Flaviano, onde ainda se lê, na pedra cinzenta, a inscrição: “Por muito EST! aqui jaz o senhor Johannes Defuk”. Em agradecimento pela hospitalidade recebida, o bispo deixou aos cidadãos de Montefiascone uma herança de 24.000 escudos, com a condição de que em cada aniversário da sua morte fosse derramado sobre o túmulo um barril de vinho, tradição que se repetiu durante vários séculos. Uma procissão histórica com personagens em trajes de época ainda é dedicada ao bispo, que revive esta lenda.
🏷 Guia Prático
Algumas informações importantes:
Rocca dei Papi: aberto de segunda-feira das 9h30 às 13h00, de terça a domingo das 9h30 às 13h e das 15h às 19h
Ingresso inclui entrada no Rocca dei Papi, entrada no Museu de Arquitetura Sangallo e guia de áudio.
Preço do bilhete: preço total 4,00 €, preço reduzido 2,50 € (crianças dos 12 aos 18 anos, grupos de mais de 15 pagantes, grupos escolares)
Entrada gratuita: crianças até aos 12 anos, deficientes com certificado de deficiência superior a 74% e residentes no concelho de Montefiascone.
Informações úteis: temporariamente fechado devido a COVID