Veja alguns artesãos que você deve conhecer na sua próxima visita à região Marche, que retratam a identidade artística local.
Na minha útlima viagem à região Marche conheci alguns artesãos muito interessantes, apresentados pela Luisa Donati, proprietária do Palazzo Donati, onde fiquei hospedada. Foram locais interessantes e inspiradores. De grande parte deles eu trouxe uma lembrança que conservo na minha casa com muito carinho.
Uma forma de conhecer a cultura local é conhecendo os seus artistas, seus artesãos, que realizam o verdadeiro “made in Italy” do tradicional ao mais moderno. A arte é uma chave de leitura muito interessante para viajar pela Itália, e conhecer a produção artística local é uma forma de contato mais próxima de como a tradição foi mantida e também de como ela foi modificada e modernizada.
Então vamos a minha lista de artesões preferidos desssa viagem.
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Índice:
1.Carpegna: Tecidos com stencil de madeira esculpidos à mão
Na minha lista, um dos artesãos mais espetaculares desta viagem foi sem dúvida Emmanuele e a sua Antica Stamperia Carpegna. Ele é a sexta geração que trabalha com tecidos pintados com stencil de madeira esculpidos à mão, e pintados com uma tinta realizada com farinha, vinagre balsâmico e ferrugem, uma receita passada de geração em geração. Tão artesanal, feito assim desde 1800!
No final do século XIX, o pano impresso à mão foi usado não só para enriquecer mesas, camas, janelas e quartos da casa, mas também para embelezar o gado durante as feiras, costume que assegurou em Carpegna a sobrevivência e a disseminação da arte da Antica Stamperia.
Por seis gerações a impressão antiga de Carpegna produz tecidos com esse tipo de stencil, mantendo o método da xilogravura. Ao entrar no laboratório, é possível admirar as velhas prateleiras com centenas de madeira esculpidas, são as diferentes matrizes, que marcam a sucessão das gerações. Os moldes utilizados, juntamente com a pasta de coloração (de dor ferrugem, e do azul ao verde), são usados para decorar tecidos.
Dentro da loja você pode ver é como são realizados esses produtos originais, que com atenção, cuidado e originalidade são feitos. Alguns moldes antigos com padrões ornamentais trazem à mente o que foi impresso em toda a Europa no início do século XIX, os desenhos eram inspirados em figuras geométricas, florais ou animais que fazem parte do rico património iconográfico popular.
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Vinagre, farinha e ferrugem são usados na fabricação da pasta de coloração. A receita do composto é secreto e cada artesão como Emanuele mantém em segredo uma espécie de patente sobre a fórmula completa. Para impressões à ferrugem o ingrediente principal é o ferro oxidado, enquanto que para as outras cores que fazem uso de bases minerais. vinagre de vinho, farinha de trigo e ferros enferrujados também são os ingredientes de uma receita antiga, que remonta mais de 300 anos, e ainda é a base da impressão tradicional. Os produtos moldados por oxidação têm um desenho visível em ambos os lados dos próprios tecidos graças à cor que, como uma oxidação do ferro, de fixa nas fibras do tecido.
Graças a esta técnica, a impressão em fibras naturais, tais como algodão e linho, é resistente a qualquer tipo de lavagem, mesmo as mais agressivas como a água sanitária. Na loja Antica Stamperia Carpegna bem como fazer impressões com os antigos matrizes originais, também é possível personalizar uma matriz para o cliente.
Para fazer a impressão, a pasta corante é espalhada sobre uma almofada, enquanto o tecido a ser impresso é colocado em uma mesa acolchoada. Ele então mergulha o molde no corante e, em seguida, aplica-o sobre o tecido batendo com um martelo bem pesado (veja vídeo). Depois de alguns golpes é carimbado e ele pode continuar com as decorações até que tenha concluído o desenho. Depois de dias de secagem ao sol, a cor típica “marrom ferrugem” é fixada com soda cáustica ou com o “Ranno”, uma antiga lavagem à base de água fervente e cinzas, para torná-lo resistente ao tempo e a todos os tipos de lavagem: uma técnica artesanal verdadeiramente original!
A Antica Stamperia Carpegna, cria toalhas de mesa, panos de prato, jogos americanos, cortinas, roupa de cama em vários tipos de tecido, como linho e cânhamo. Essa técnica antiga foi transmitida durante várias gerações, mantendo a tradição do Made in Italy. Também no centro de Carpegna há uma loja da Stamperia.
2. Urbania: a maiólica
” …e la piccola tavola del tè era pronta con tazze e sottocoppe in maiolica di Castel Durante, antiche forme d’inimitabile grazia…” Gabriele D’Annunzio (Il Piacere – libro I)
Em 1500, Casteldurante, juntamente com Urbino e Pesaro, produzia as mais belas maiólicas (ou majólica é o nome dado à faiança italiana do Renascimento, inspirada a princípio na tradição hispano-mourisca) do Renascimento. Na cidade naquela época havia mais de 40 fornos e 150 maiolicari (artistas da maiolica), e muitos mestres abriram oficinas no resto da Itália e até mesmo no exterior, levando ao mundo a sua arte preciosa. É muito importante que ainda se mantenham as técnicas, a extraordinária riqueza de ânforas e pratos istoriati, que são pratos desenhados que narram uma história.
Casteldurante em 1636 mudou de nome, passou a ser Urbania, e por 2 séculos escultores talentosos e pintores continuaram a tradição, renovando a arte com “a elegância das formas e a bondade da mistura.” Em Urbania hoje novas oficinas reavivam as cores e a extraordinária riqueza dos vasos e pratos que contam histórias.
A cerâmica Casteldurante é um tesouro que não se perdeu com o tempo, pois importantes coleções dessas obras-primas do passado são preservadas, por exemplo, na seção do Museu Cívico e da Cerâmica Museu diocesano de Urbania. Além disso, o Centro Social Ceramic Art Cipriano Piccolopasso oferece aos artistas e entusiastas a oportunidade de melhorar suas habilidades artísticas, alimentando a abertura de novos laboratórios, enquanto a Associazione Amici della Ceramica promove a arte antiga com cursos de cerâmica e exposições.
Leia o texto: Urbania, a cidade da cerâmica
É possível visitar ali uma das mais bonitas lojas de Maiólicas da cidade, a Antica Ceramica Casteldurante de Gilberto e Giuliano, que trabalha com grandes artefatos, maiólica istoriati, raffaellesche (inspiradas nos desenhos de Rafael) e, seu laboratório tornou-se um pequeno museu, que com certeza vale a sua visita.
Eles ainda são os fornecedores oficiais do Museu do Louvre, onde fazem copias de maiolicas renascentistas para a venda direta ao museu.
3. Urbino: Cerâmica Sigilata
Em Urbino se encontra um artista que trabalha com a cerâmica sigilata com influência da técnica Raku Japonese, é escultor Marcello Pucci.
A cerâmica sigilata (selada) é um tipo de cerâmica destinada a ser usada como serviço de mesa. Sua principal característica é uma pintura vermelha, mais ou menos clara e decoração em relevo, moldadas, estampadas ou aplicadas. Alguns exemplares apresentam alguns impressos na cerâmica, como sigilos (sigili em italiano) do qual deriva seu nome, sigilata.
A chamada vernice (tinta) é conseguida através da decantação da argila em água, onde é adicionado um elemento floculante que facilita a precipitação de calcário na parte inferior e a suspensão de partículas de feldspato, que constituem o elemento de argila “vidrado”. A cor do recipiente acabado depende da técnica de cozimento que pode ser com boa oxigenação, favorecendo assim uma cor vermelha, ou a redução de oxigênio, realizando um elemento preto com reflexos metálicos.
Na nossa visita ao seu atelier, Marcello Pucci mostrou as criações, o seu forno, como ele decanta a argila e como produz as suas peças. Ele ainda dá aulas de cerâmica e vende suas peças.
4. Mercatelo sul Metauro: escultura e pintura
Visitei a casa e atelier do escultor italiano Pasquale Martini, um verdadeiro refúgio em meio ao verde. Ele nos mostrou um pouco do seu trabalho, explicou suas obras que ali estavam expostas e contou um pouco da sua vida.
Leia o texto: Mercatello sul Metauro, terra de gente hospitaleira
Achei tão fabuloso poder ter a honra de ouvir do próprio artista a sua inspiração e a explicação das suas obras, realmente foi um momento mágico. Ele recebe alunos do mundo inteiro no decorrer do ano para um estágio.