Siga o diário de viagem da Eleonora pelo Caminho de São Bento, em ocasião do Jubileu extraordinário de Roma 2016. O caminho passa pelas regiões italianas da Umbria e Lazio e termina em Roma, na audiência com o Papa.
A primeira parte desta viagem, você pode ler aqui.
Índice:
Dia 4 – Collepardo a Arpino (Lácio)
Hoje iniciamos nosso percurso, primeiro de Fiuggi, onde dormimos, até Collepardo de ônibus, e dali começou a caminhada. Collepardo fica a 586 metros acima do nível do mar e possui um lugar bastante curioso, o Pozzo D’Antullo, uma grande fossa cársica, uma raridade natural, única na Europa pelo seu tamanho: perímetro de cerca 300m e profundidade de 60m. O fundo do poço é coberto por vegetação e apresenta algumas estalactites curvas bem curiosas, provavelmente geradas pelo vento vindo dos túneis laterais, que altera a deposição de cristais. O fundo está provavelmente ligado às mesmas cavernas, através de um complexo sistema de passagens subterrâneas.
O percurso seguiu até a Certosa di Trisulti, foram no total 5 kms bem difíceis, porque com 150 metros de desnível!
A Certosa de Trisulti fica dentro do município de Collepardo, mas num vilarejo mais distante. A Certosa é rodeada por bosques de carvalhos, foi fundada em 1204 pelo Papa Inocêncio III e passada em 1208 aos monges certosini (daí o nome “Certosa”), mas em 1947 eles foram substituídos pelos atuais monges cistercienses da Congregação de Casamari.
Dentro do complexo fica a Igreja com valiosas obras de arte, a antiga Farmácia do século XVII, e uma Biblioteca muito rica com 25.000 volumes antigos. Há uma vista incrível porque fica a 825 metros de altitude, um lugar de muita espiritualidade. Na Certosa há una farmácia criada pelos monges e que hoje ainda se produz o licor de Centoerbe ( de 100 ervas). Lá vivem 3 monges e um deles, de 90 anos, é o que ainda produz os remédios fitoterápicos famosos na Itália.
Curiosidade: há um aviso na entrada, as mulheres não podem ultrapassar a sala de espera da farmácia!
Depois fomos até Veroli de ónibus, onde fomos recebidos pelo Prefeito da cidade, que nos ofereceu um aperitivo. A vista da cidade é linda! A cidade é importante porque possui “La Scala Santa”, ou seja, a escada santa.
A escada santa é a escada que Jesus subiu para chegar à sala onde foi submetido ao interrogatório por Pôncio Pilatos antes da crucificação. A mais famosa escada santa, local de peregrinação de católicos, é a escada que fica em Roma, parte de um complexo chamado de Santuario della Scala Santa próxima à Basilica di San Giovanni in Laterano.
A Scala Santa di Veroli foi construída entre 1715 e 1740 e é composta de 12 degraus de mármore (no décimo primeiro degrau fica guardada uma suposta relíquia da Cruz). Pela concessão do Papa Bento XIV, quem sobe esta escada ajoelhado recebe indulgência diária de 100 dias e – uma vez por mês – a mesma indulgência que Sisto V concedeu a Scala Santa di San Giovanni in Laterano, ou seja, a indulgência plena.
A parada para o almoço foi no Antico Palazzo Filonardi Relais, no restaurante desse Hotel, onde o chef que trabalhou com Gualtiero Marchesi, pai da chamada “nova culinária italiana”, tudo maravilhoso!!!
Depois seguimos para a Abbadia di Casamari, também em Veroli, fundada em 1203 pelos beneditinos e depois passada aos cistercienses.
Em seguida, fomos à cidade de Boville Ernica, com um panorama incrível! Lá visitamos a Igreja de San Pietro Ispano, importante porque conserva uma rara obra em mosaico de Giotto, o “Anjo”, em origem na antiga basílica constantiniana de San Pietro em Roma, que o monsenhor Simoncelli, secretário do Papa Paulo V Borghese, conseguiu preservar da destruição durante os trabalhos de renovamento da Igreja. Outra obra importante é o crocifisso del primo giubileo, ou seja, o crucifixo do primeiro Jubileu, também salva pelo mesmo monsenhor.
Fomos recebidos ali na Prefeitura pelo Prefeito da cidade, com uma degustação de produtos típicos.
Nosso passeio termina em Arpino, cidade de Cicerone, onde fizemos um rápido passeio pelo centro da cidade e conhecemos os restos romanos. Jantamos no restaurante Le Delizie di Maria, nota 10! E dormimos no Hotel Il Cavalier D’Arpino, um hotel 3 estrelas que em origem era uma fábrica de lã.
Total da caminhada: 5 km de Collepardo à Certosa di Trisulti
Dia 5 – de Arpino a Rocsassecca (Lácio) e noite em Roma
Acordei cansada, porém ainda mais animada para terminar o percurso! Começamos o dia indo de Arpino a Roccasseca, são 8 km.
Depois de um pequeno passeio pela cidade, conhecendo a sua muralha, portas medievais e igrejas, começamos a nossa caminhada fora da cidade, em direção à Civitavecchia.
Subimos a colina, cerca de 2,5 km para conhecermos a antiga cidade de Civitavecchia (ou Civita Vecchia), que foi provavelmente, o núcleo original do assentamento original volsco (povo do VII-VI séc.a.c.), fundada por uma necessidade de defesa em uma ascensão elevada e íngreme e, em seguida, cercada por muralhas. Os restos da cidade ficam em uma colina a 627 metros de altura, com as casas colocadas em inclinação em relação ao ponto mais alto. Logo no topo da colina, onde há um mirante, é possível admirar um panorama maravilhoso, envolto no silêncio dos campos de Arpino, que vão desde as muralhas da fortaleza medieval até as colinas suaves do Ciociaria
Do alto da colina é fácil reconhecer a longa muralha da cidade que, descendo, cerca o Castelo e o antigo burgo e vizinho centro de Civita Falconara. As muralhas poligonais de Arpino se dividem de Civitavecchia numa altura de 627 metros e descem ladeira abaixo até abraçar o outro lado fechar a cidade no monte inferior (Civita Falconara). A muralha originalmente se estendia por 3 km, mas hoje existem cerca de 1,5 km e em alguns lugares foi incorporada dentro das casas. Em Civitavecchia há ainda a casa da família de Cicerone, onde a sua esposa fez construir pelos escravos gregos uma pequena estrada esculpida na rocha para permitir chegar rapidamente à Civitavecchia desde Arpino Forum.
E depois descendo da colina fomos em direção à cidade de Roccasecca
Roccasecca durante séculos foi apenas um ponto de passagem conveniente para os exércitos que passaram pelo rio Melfa, em que foram construídas, provavelmente no tempo dos romanos, três pontes dos quais alguns vestígios ainda visíveis hoje.
Na verdade, quando se trata de Roccasecca e sua história, os nossos pensamentos se voltam imediatamente para São Tomás de Aquino, grande filósofo e santo, que nasceu na cidade.
Ainda visitamos a Igreja de São Tomas de Aquino, a primeira igreja do mundo dedicada ao santo. E atrás da Igreja fica o restaurante onde almoçamos com pratos típicos da região da Ciociaria, como a “frionza“, um prato feito com pão velho em vedações e pequenos brócolos locais, e os queijos deliciosos como o marzolino, queijo de cabra com vários tipos de envelhecimento e conservação. O nome do restaurante, que vale uma boa recomendação porque eu me esbaldei, é o La Locanda del Castelo.
Depois seguimos a Montecassino, essa etapa de ônibus (ainda bem!). Lá fica a famosa Abbazia di Montecassino, que é um dos mais importantes locais de culto do Lácio e da Itália e pode ser definida como o berço do monaquismo ocidental. Foi fundada em 529 por São Bento, em uma área onde, no passado, era uma antiga torre e um templo dedicado a Apolo.
Localizada sobre uma colina de 519 metros de altura, no curso de sua história, a abadia de Monte Cassino passou muitas histórias de destruição, saqueamentos, terremotos e posterior reconstrução. Foi São Bento a escolher esta montanha para construir um mosteiro que abrigaria ele e os monges que o haviam seguido desde Subiaco.
Em 577, a Abadia de Montecassino começou a sofrer as primeiras invasões destrutivas pelos lombardos, e por isso os monges deixaram a abadia e buscaram refúgio na cidade de Roma, trazendo com eles os restos de São Bento. Os 643 monges foram acomodados em uma comunidade em São Columbano em Bobbio e mais tarde em vários mosteiros e abadias colombaniane na Itália e na Europa, tendo assim a oportunidade de espalhar a mensagem de São Bento. Durante a Idade Média, a Abadia de Montecassino era um centro cultural fervoroso graças à grande habilidade de seus abades, às bibliotecas ricas, arquivos e escolas. Tudo isso fez com que ao longo dos séculos muitas obras antigas de grande valor histórico fossem preservadas.
É uma Abadia muito importante porque não só instituída por São Bento, mas porque aqui ele viveu, escreveu a “regra”, e morreu. Na Igreja estão guardados os restos mortais de São Bento e de Santa Escolástica, sua irmã gêmea. No mosteiro da Abadia vivem 15 monges.
Na foto acima é com o grupo da viagem, quando recebemos o “Testimonium”, que é um atestado de que fizemos o caminho de peregrinação de San Benedetto (São Bento), e é dado somente a quem, ao final do percurso comprova que fez ao menos 50 km.
Esta será a melhor conclusão de um caminho que nos conduziu em grande parte da região central da Itália, para aprender sobre a vida e obra de São Bento, junto com a arte, cultura, história de uma boa fatia do “Bel Paese”.
Amanhã nos aguarda a chegada à Roma pela Riserva dell’Insugherata…. aguarde!
Total da caminhada: 8 km de Arpino a Roccasecca
Dia 6 – Roma
Dali descemos até à Igreja de San Lázaro, onde nos esperavam jovens vestidos com trajes de época medieval.
Na própria rua da igreja, em uma pequena travessa próxima ao tribunal de Roma, foram dispostos mesas e bancos e servidos um grande almoço para nós. Após a refeição, ouvimos também um concerto de música medieval.
Após o fim do concerto, fomos ao nosso Hotel que fica fora do centro da cidade, o Hotel Cachinai, um 3 estrelas muito bom em Frascati.
Tivemos um jantar de despedida do grupo no Villa Tuscolana, um palácio do século XVI que domina o alto da cidade.
Dia 7 – Fim do tour
O dia final da nossa viagem terminaria com a Audiência Papal, acordamos cedo, e de ônibus todo o grupo fomos em direção à Roma, porém o trânsito estava caótico, e uma série de atrasos fez com que chegássemos à Praça de São Pedro às 10, quando deveríamos chegar as 09:00/09:30.
Ás 09:30 eles fecham a entrada no local reservado para se sentar, que fica no centro, por motivos de segurança, e por isso não podemos ver o Papa de pertinho, como à nós foi reservado… uma pena.
O resultado foi que tivemos que nos contentar de ver o papa de longe.
Ao término da audiência papal, nós fomos almoçar e depois nos despedimos.
Espero que tenham gostado do diário da viagem e aguarde alguns textos que ainda vou escrever, mas detalhados sobre alguns locais que vale a pena um texto específico.
Agradeço pela oportunidade de substituir a Deyse nesta viagem e de ceder um espaço aqui no blog pra mim!
Nota: Eleonora participou desta viagem de imprensa como representante de Deyse Ribeiro, convidada pelo consórcio Caminhos de São Francisco (Cammini di San Francesco), juntamente com as regiões italianas do Lázio, Toscana, Úmbria e Marche e o suporte de vários órgãos ligados à peregrinação, organizado pelo Italian Wonder Ways, uma iniciativa para divulgar cinco dos vários caminhos com Bloggers e jornalistas do mundo inteiro. Deyse teve problemas de saúde antes da viagem e foi representada por Eleonora.
Eleonora Tramonti nasceu em Ancona, região Marche e é graduada em Turismo pela Universidade de Perugia. Além de ser blogger, ela também trabalha com marketing e social media. Ela está representando a Deyse Ribeiro nesta viagem pelo Caminho de São Bento.
Gostaria de saber como fazer esse caminho a pé. Vocês tem contato de alguma agencia, quantos dias dura a viagem?